13/02/2025 11h44
atualizado em: 14/02/2025 08h53
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Realizada por iniciativa da vereadora Iara Bernardi, audiência contou com participação de especialistas e da população em geral

A Câmara Municipal de Sorocaba, por iniciativa da vereadora Iara Bernardi (PT), realizou na noite desta quarta-feira, 12, audiência pública para debater os impactos da implantação da nova marginal direita do Rio Sorocaba.

A mesa principal foi composta pela vereadora proponente, o professor da Ufscar de Sorocaba, André Cordeiro Alves dos Santos; o ex-vereador e ambientalista Gabriel Bittencourt; o professor Marcos Antonio dos Santos Reigota; a arquiteta e urbanista Denise Martins Correa; e o professor Welber Senteio Smith. Também participaram os vereadores Fernanda Garcia (PSOL), Izídio de Brito (PT), Jussara Fernandes (Republicanos), Raul Marcelo (PSOL), Roberto Freitas (PL) e Toninho Corredor (Agir).

Iara Bernardi iniciou lamentando a falta de representação da Prefeitura, que propõe o projeto da via marginal direita. A vereadora disse que convidou cinco secretários municipais, mas não houve resposta da prefeitura. “Gostaríamos que eles explicassem o projeto, a fundamentação, os estudos que baseiam o projeto, mas isso não acontece. Muitas vezes os vereadores recebem projetos importantíssimos com dois dias de antecedência”.

A parlamentar acrescentou que a proposta da marginal direita tem mais de 30 anos, desde que era vereadora na década de 1980. Para ela, hoje há propostas muito mais modernas. “No meu entendimento, é uma proposta superada, atrasada, de nós ocuparmos as várzeas do Rio Sorocaba. As mudanças climáticas já estão mostrando a que vieram na cidade de Sorocaba”.

Em seguida, Iara Bernardi apresentou análise crítica feita pelo professor Vital Dias da Mota Junior, argumentando sobre a inviabilidade da nova marginal direita do Rio Sorocaba e propondo alternativas sustentáveis. Entre os principais pontos levantados, destacaram-se os impactos ecológicos da obra, como degradação dos ecossistemas aquáticos, alteração do regime hídrico, poluição e assoreamento do rio. Também foram mencionados os riscos das mudanças climáticas, o alto custo de manutenção da marginal e os conflitos com a sustentabilidade urbana, devido à ocupação desordenada e à perda de áreas verdes. A vereadora citou bairros como Jardim Sandra, Jardim Faculdade, Vila Assis e Vitória Régia, que já sofrem com as cheias do rio e tiveram sua valorização comprometida.

A análise defendeu a preservação das áreas verdes e o investimento em infraestrutura sustentável, como a criação de parques, incluindo um parque linear no local da obra. Outras propostas incluíram a revitalização da orla, sistemas eficientes de drenagem e educação ambiental. Foram citadas cidades como Curitiba, Medellín e Amsterdã, que há anos investem em áreas verdes e conservação ambiental. Por fim, destacou-se a necessidade de um plano de revitalização para o rio, parcerias para financiar projetos sustentáveis, monitoramento ambiental e um planejamento de mobilidade urbana que evite repetir erros do passado, como a ocupação desordenada das margens dos corpos d’água.

Manifestações dos vereadores – O vereador Raul Marcelo (PSOL) criticou o estudo que embasou o Plano Diretor, classificando-o como superficial e sem fundamentação. Afirmou que a proposta da marginal direita surgiu na gestão de José Crespo e defendeu que a gravação da audiência seja encaminhada ao Ministério Público, que já investiga o caso, além de sugerir o envio da documentação à Cetesb e a criação de uma comissão na Câmara para acompanhar o tema.

Toninho Corredor (Agir) elogiou a iniciativa da audiência e relatou que, ao correr à noite pela marginal, observa capivaras às margens do rio. Criticou a ausência de técnicos da Prefeitura para explicar o projeto e seus impactos ambientais. Fernanda Garcia (PSOL) classificou a obra como absurda e alertou para a importância de conscientizar a população, que, segundo ela, é seduzida pelo discurso da mobilidade urbana. Afirmou que o Plano Diretor ignorou movimentos sociais, associações e até mesmo a Câmara Municipal. Segundo a vereadora, apesar das diversas manifestações contrárias, o interesse da especulação imobiliária tem prevalecido.

O vereador Izídio de Brito (PT) afirmou que a marginal direita atende a interesses imobiliários. "Tudo isso tem uma contrapartida financeira e imobiliária", declarou. Ele defendeu ações jurídicas contra o projeto e responsabilização dos agentes públicos. "Precisamos gradativamente responsabilizar um por um, via Ministério Público, Corregedoria e, se necessário, Polícia Federal", ressaltou. Roberto Freitas (PL) manifestou preocupação com o crescimento acelerado da cidade e alertou para a necessidade de investimentos adequados. "Se não houver investimentos necessários, a cidade ficará pior, não melhor. Quando falamos de uma marginal direita, pensamos em desafogar o trânsito e melhorar a vida da população. Mas estamos aqui para ouvir os prós, os contras e avaliar os riscos dessa obra", ponderou.

Apresentações dos especialistas – Os integrantes da mesa principal da audiência pública criticaram a marginal direita do Rio Sorocaba, apontando que a obra trará mais problemas do que soluções. O professor André Cordeiro Alves dos Santos destacou que o investimento seria inútil e que a solução para o trânsito passa pelo transporte público, além de alertar para a importância da vegetação na regulação do clima e abrigo da fauna. 

O ambientalista Gabriel Bittencourt enfatizou a necessidade de preservar a vegetação ciliar e a fauna local. O professor Marcos Reigota defendeu o abandono do projeto e maior participação popular. Já a arquiteta e urbanista Denise Martins Correa alertou para os altos custos e impactos econômicos, afirmando que a obra não atenderia ao interesse público. Já o professor Welber Senteio Smith reforçou a necessidade de embasamento científico e mencionou estudos que rejeitam a remoção da vegetação da margem do rio.

No fim da audiência pública, Iara Bernardi solicitou que os integrantes da mesa elaborem um documento técnico para apresentar à Prefeitura, acrescido de assinaturas da população e entidades. A vereadora também convocou os demais parlamentares a se engajarem na questão e cobrarem explicações do Executivo sobre o projeto.