A solenidade foi realizada na noite desta sexta-feira, 5, às 19 horas, no plenário da Casa, com a presença de autoridades civis e eclesiásticas
O centenário de fundação da Arquidiocese de Sorocaba foi celebrado em sessão solene da Câmara Municipal, realizada na noite de sexta-feira, 5, no plenário da Casa. Além do vereador propoente da sessão solene e de outros parlamentares, a mesa de honra do evento contou com o arcebispo metropolitano de Sorocaba, Dom Júlio Endi Akamine; o arcebispo emérito Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues; o vigário geral da Arquidiocese de Sorocaba e pároco da Igreja de Santa Rita de Cássia, padre Manoel César de Camargo Júnior; e o vigário judicial da arquidiocese de Sorocaba e pároco da Igreja de São Carlos Borromeu, padre João Carlos Orsi.
A sessão solene também contou com apresentações musicais de Cláudia Queirós (voz) e Vinícius Vianna (voz e violão) e foi exibido um vídeo, produzido pelos servidores do setor de comunicação da Casa, Reinaldo Bittencourt e Sérgio Leite, com locução de Anderson Santos, contando a história da Arquidiocese de Sorocaba e de seus bispos, entre eles, Dom José Carlos Aguirre. Também foram concedidos, por iniciativa do vereador proponente, votos de congratulações a diversos diáconos e padres pelo trabalho social e espiritual que realizam no âmbito da Arquidiocese de Sorocaba.
Instituição eclesiástica – Conforme seus estatutos, a Arquidiocese de Sorocaba é uma instituição eclesiástica, entidade civil beneficente, que tem por escopo a realização de atividades religiosas, educacionais, culturais e de assistência social, inclusive de assistência à saúde, e abrange paróquias, seminários, capelas, freguesias, fábricas paroquiais, templos católicos, confrarias, irmandades, cúria arquidiocesana e órgãos de administração eclesial.
A Arquidiocese de Sorocaba é responsável direta pelos municípios de Sorocaba, Araçoiaba da Serra, Boituva, Cerquilho, Iperó, Jumirim, Piedade, Porto Feliz, Salto de Pirapora, Tapiraí, Tietê e Votorantim. Também está à frente da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, que é responsável pelo Hospital desde setembro de 2017, quando o padre Flávio Jorge Miguel Júnior assumiu a presidência da Irmandade, que tem como moderador o arcebispo Dom Julio Endi Akamine.
Palavra do Arcebispo – O arcebispo de Sorocaba, Dom Julio Akamine, discorreu sobre as relações entre a religião e o poder secular, recorrendo ao episódio bíblico em que Jesus Cristo foi indagado se era lícito pagar impostos a Cesar. “Eram dois grupos antagônicos, que brigavam entre si: os herodianos e os fariseus. Os fariseus eram contrários ao pagamento do imposto, enquanto os herodianos eram favoráveis, mas eles se uniram porque encontraram em Jesus Cristo um inimigo comum e lhe armaram uma cilada. Na época, pagar imposto era um ato de reconhecimento de uma autoridade constituída. A questão política dessa obediência se revestia também de um cunho religioso. Além da mordida econômica, o imposto a César incluía o pagamento a uma potência estrangeira cujos governantes não podiam ser considerados legítimos representantes de Deus, porque eram pagãos”, observou o arcebispo, que refletiu detalhadamente sobre a resposta de Jesus Cristo aos fariseus.
“A resposta de Jesus é clara: aceitando as moedas de César, os fariseus e os herodianos entram no sistema econômico do Império e, por isso, devem aceitar suas consequências. A aceitação da moeda de César é a admissão de sua soberania; portanto, dar a César o que é de César significa participar na organização da vida em sociedade, na organização do Estado, em outras palavras, significa participação política, responsabilidade pelo bem comum. Mas a resposta de Jesus não parou no ‘dai a César’: é necessário dar a Deus o que é de Deus. Jesus reconhece César, mas declara, ao mesmo tempo, que César não é Deus. A Cesar se deve o respeito civil, o respeito político, mas ele não pode reclamar a adoração que é própria de Deus. Por isso, também César deve dar a Deus o que é de Deus, pois Deus está acima dos governantes e dos poderes constituídos” – enfatizou o arcebispo.
“Os cristãos obedecem a Deus. Essa afirmação de Jesus é extraordinariamente corajosa e revolucionária. César também deve dar a Deus o que é de Deus. Deus não está ao lado de César – está acima dele. Por isso, Deus está presente em tudo, e deve ser obedecido fora da igreja, na política, nos negócios, no trabalho profissional. Evidentemente, o culto e as realidades seculares são coisas distintas, mas não devem estar separadas com a sua ação do mundo. Os cristãos consagram as realidades seculares e exercem o verdadeiro sacerdócio em seu cotidiano, quando são guiados pelo Evangelho. O cristão respeita a autoridade constituída, mas se o poder pretende ser absoluto, se ele se coloca no lugar de Deus, se ele atenta contra a dignidade humana, o cristão tem o dever de se opor a ele”, afirmou Dom Júlio Akamine, que também discorreu sobre o papel da Igreja Católica na política e nas eleições.
Construindo pontes – O padre Arari dos Santos Amorim falou sobre a ação social e evangelizadora da Arquidiocese de Sorocaba, destacando o trabalho social das pastorais, “que atuam em prol dos mais pobres, dos excluídos, aqueles que não têm voz nem vez, pois a igreja também pensa neles”. Destacou que, somente na Pastoral do Menor, são atendidas 1.150 crianças, que são tiradas das ruas, além do atendimento às mulheres grávidas. Também destacou outras pastorais, como a Pastoral da Sobriedade, de prevenção ao uso de álcool e drogas, a Pastoral da Saúde, a Pastoral da Pessoa Idosa, a Pastoral Carcerária, entre outras, além do Grupo Fé e Política, voltado para incentivar os leigos a participarem da vida cívica. Também falou sobre os centros de acolhimento que a igreja mantém.
O padre Wagner Lopes Ruivo, pároco da Paróquia São José Operário, contou que uma tia de Baltazar Fernandes, em seu leito de morte, recebendo os últimos sacramentos, confiou a um familiar de Baltasar Fernandes, que era padre, uma imagem de Nossa Senhora da Ponte, única em todo o mundo e próxima à Diocese de Braga, na região do Minho, em Portugal, justamente por causa da ponte de Lima, que existe no local. “Mais tarde, o papa São João XXIII vai reconhecer Nossa Senhora da Ponte como padroeira da Arquidiocese de Sorocaba. Por que faço esse resgate histórico? Justamente pelo fato de que, desde o início, a vocação nossa de cristãos católicos não é outra senão a de sermos pontes”, afirmou.
O padre Wagner Ruivo lembrou que Nossa Senhora foi ponte nas bodas de Canaã para que o primeiro milagre de Jesus acontecesse. “Com seu pedido, ela como que antecipa a hora de seu Filho, sendo a onipotência suplicante, e nos ensina a sermos pontes. O Papa Francisco disse muitas vezes que os homens constroem mais muralhas do que pontes. É muito triste quando a nossa cidade fica dividida entre religiões e partidos, polarizada entre esquerda e direita, com as pessoas se digladiando. Nós, padres, temos estendido pontes ao longo desses anos, buscando unir pessoas distintas pelo bem comum. É essa a missão que a Virgem Maria, a nossa padroeira, nos dá: se as pessoas levantarem muralhas, preferimos continuar a ser pontes” – enfatizou o pároco da Paróquia São José Operário.
Fidelidade ao Evangelho – O padre Tadeu Rocha Moraes, pároco da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte, contou que já no início do Século XX, os sorocabanos alimentavam o desejo de que fosse instalada na cidade uma nova diocese, mas em 7 de junho de 1908, o papa São Pio X, por meio de bula pontifícia, elevou a Diocese de São Paulo a sede metropolitana, separando-a da então Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, assim como a Diocese de Curitiba, no Estado do Paraná. Dessa nova província eclesiástica faziam parte as cinco primeiras dioceses criadas no Estado de São Paulo, com sedes nas cidades de Taubaté, Campinas, Botucatu, São Carlos e Ribeirão Preto.
“Esse desencanto momentâneo não extinguiu o sonho dos sorocabanos de ter um bispo residente e as tratativas continuaram até que, em 4 de julho de 1924, o Papa Pio XI criou duas dioceses no Estado, a de Santos e a de Sorocaba, esta desmembrada da então Diocese de Botucatu, que era extensa e ia até a divisa do Paraná. A Diocese de Sorocaba foi instalada em 31 de dezembro de 1924 e, no dia seguinte, pela manhã, tomou posse como primeiro bispo Dom José Carlos de Aguirre” – contou o padre Tadeu Rocha, enfatizando que, ao longo de sua história, a igreja de Sorocaba nunca deixou de buscar a fidelidade aos ensinamentos de Cristo e sempre se arrependeu de seus momentos frágeis, buscando educar-se no Senhor.
Criação da Diocese – A história da Arquidiocese de Sorocaba remonta à criação da Diocese de Sorocaba, através da publicação de duas bulas pelo Papa Pio XI, em 4 de julho de 1924, no Vaticano, em Roma. Uma bula criava duas novas circunscrições eclesiásticas no interior do Estado de São Paulo, em Sorocaba e Santos, e outra designava o cônego José Carlos de Aguirre (1880-1973), então titular da Paróquia de Bragança Paulista, para ser o primeiro bispo diocesano de Sorocaba.
Paulista de Itaqueri da Serra, então distrito de Rio Claro, José Carlos de Aguirre estudou no Liceu do Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo e, em 1896, ingressou no Seminário Episcopal de São Paulo. Em 8 de dezembro de 1904, foi ordenado presbítero e, no dia seguinte, rezou sua primeira missa no altar de Nossa Senhora de Lourdes no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo.
Depois de desempenhar várias funções na hierarquia da igreja, como secretário e professor do Colégio Diocesano de São Paulo e vigário de Bragança, foi designado bispo da Diocese de Sorocaba e chegou à cidade para assumir essa missão em 31 de dezembro de 1924, sendo recebido pela população no pátio da estação ferroviária, tomando posse no dia seguinte. Comandou a Diocese de Sorocaba durante 48 anos, ordenando um total de 278 padres. Morreu em 10 de janeiro de 1973, com 92 anos.
Bispos e arcebispos – O segundo bispo diocesano de Sorocaba foi José Melhado Campos (1909-1996), que era paulista de Limeira, e após ser nomeado, pelo Papa Paulo VI, coadjutor de Dom Aguirre, com a morte deste, assumiu a Diocese de Sorocaba em 8 de janeiro de 1973, permanecendo na função até 20 de janeiro de 1980, quando renunciou. Foi autor de vários livros e um dos fundadores da Academia Sorocabana de Letras.
Seu bispo coadjutor, Dom José Lambert (1929-2007) assumiu a Diocese de Sorocaba, nomeado pelo Papa João Paulo II em 20 de maio de 1981. Com a transformação da Diocese em Arquidiocese de Sorocaba, tornou-se, em 29 de abril de 1992, o primeiro arcebispo metropolitano de Sorocaba, recebendo o pálio das mãos do Papa João Paulo II, em Roma, em 29 de junho daquele mesmo ano. Esteve à frente da Arquidiocese por 25 anos, falecendo em 26 de fevereiro de 2007, em Sorocaba, quando já era arcebispo emérito.
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, mineiro de Bias Fortes, onde nasceu em 25 de junho de 1941, foi o segundo arcebispo metropolitano de Sorocaba, nomeado pelo Papa Bento XVI, em 4 de maio de 2005, para suceder ao arcebispo Dom José Lambert. Dom Eduardo Benes tomou posse em 3 de julho de 2005 e esteve à frente da Arquidiocese de Sorocaba por onze anos. Em 2016, ao completar 75 anos, Dom Eduardo Benes renunciou ao cargo
Foi sucedido por Dom Júlio Endi Akamine, atual arcebispo metropolitano de Sorocaba, nomeado em 28 de dezembro de 2016 pelo Papa Francisco. Descendente de japoneses, é paulista de Garça, onde nasceu 30 de novembro de 1962. Foi ordenado sacerdote em 24 de janeiro de 1988, em Cambé, no Paraná. Dom Júlio Akamine é Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1995) e Doutor pela mesma Universidade (2005).