26/04/2024 18h10
atualizado em: 27/04/2024 12h27
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Iniciativa do vereador Ítalo Moreira (União) com orientação da Academia Sorocabana de Letras integra o movimento de resgate histórico do tropeirismo.

Na tarde desta sexta-feira, 26, por iniciativa do vereador Ítalo Moreira (União), a Câmara Municipal realizou uma audiência pública com o tema “Tropeirismo – A saga que transformou o Brasil” como forma de valorizar e reconhecer o movimento histórico que conectou regiões e povos através das rotas comerciais, influenciando aspectos culturais, econômicos e sociais que definem o país até hoje. O evento contou com a orientação da Academia Sorocabana de Letras e integra o movimento de resgate histórico do tropeirismo e a reivindicação por um “Dia Nacional do Tropeiro”.

Além do proponente da audiência, vereador Ítalo Moreira, que presidiu a audiência, estiveram presentes na mesa principal o vereador Luis Santos (Republicanos); o presidente da Academia Sorocabana de Letras (ASL), Antonio Pontes; o sócio emérito da ASL, prof. José Osmir Fioreli; a profa. Maria Aparecida Dias de Souza (ASL); e representando a Sociedade Numismática Brasileira e a ASL, o prof. Gilberto Fernando Tenor. Em participação remota estiveram Carlos Solera; Lina Cridi Cristina, Rafael Leme e Zulema Cañas. Já a mesa estendida foi composta por Ivan Santala, prof. Geraldo Almeida, Manoel Garcia (Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba - IHGGS), Marcos José Rogik Vieira (ASL), Juliana Godinho (Cultura Tropeira – Laranjal Paulista), Leandra Bastiston, Marcelo Silvano Camargo (ASL), Orestes Alencastro (Centro de Tradições Gaúchas - CTG), Derci de Silva (CTG), Jairo Valho, Claudio Ferreira de Assis e Marta Ramos (CTG), Maria Elenice Crispim (IHGGS), Hamilton Vieira (Fepacla), Hermam Costa, Fernando Augusto (ICM), Fernando Dizianet e José Desidério.

Ítalo contou sobre a experiência de realizar caminhada até Aparecida do Norte e poder vivenciar uma pequena experiência sobre como era a vida dos tropeiros, além de identificar cidades que foram criadas por conta do movimento. “Tudo que temos hoje é graça a homens e mulheres que eram heróis, desbravaram matas, trilhas, bandidos, índios. Hoje temos caminhoneiros que já sofrem nas estradas, agora imagine isso de mula?”, questionou.  Ele destacou a cultura gaúcha, caipira e sertaneja como influências para a unidade da identidade do povo brasileiro e defendeu a importância do projeto de lei para criar o Dia Nacional do Troperismo, que contempla todos os estados.

Antonio Pontes falou sobre a proposta de criação do Dia Nacional do Tropeiro. Segundo ele, a academia iniciou discussões sobre os aspectos do tropeirismo Brasil afora. “Com isso, evita-se que o esquecimento venha sepultar a imensa saga tropeira realizada pelo país”, disse, lembrando que os tropeiros foram responsáveis por percorrer territórios virgens, criar caminhos para transportes, deixar marcas em vilas e cidades rumo à feira de muares em Sorocaba. “A academia Sorocabana de Letras esta desenvolvendo atividades culturais para destacar o tropeirismo, com a finalidade do Dia Nacional do Tropeirismo”, afirmou.

O professor contou que, após consultas com historiadores e pesquisadores, foi avaliado que a data para celebração do tropeirismo deve ser 13 de julho, dia do batismo de Cristovão Pereira de Abreu, um dos pioneiros no movimento. “Esse foi o mais bem sucedido empreendimento desde o período colonial, com registros espalhados por todos os rincões do país”, disse Pontes, sobre a importância do tropeirismo.

O vereador Luis Santos contou que há muitos anos participa da tropeada em Sorocaba e já havia buscado a deputada federal Simone Marchetto para reativar o projeto de criação do Dia Nacional do Tropeiro, iniciado pela então deputada e atual vereadora Iara Bernardi. Como não tinha conhecimento dos trabalhos em andamento, sugeriu a data de 22 de maio, dia celebrado no Estado de São Paulo, e dentro da semana do Tropeiro de Sorocaba. Segundo ele, agora foram unidos os esforços entre os atuantes pela causa e a intenção é entrar com uma emenda para alterar a data. “Isso pode ser alterado e discutido durante as audiências públicas”, disse. Ele revelou também que entrou como projeto de lei para instituir no município a honraria da medalha “Vera Job”, uma destacada historiadora e ativista dentro da causa do tropeirismo.

O escritor, pesquisador e professor José Osmir Fioreli, autor do livro “Tropeirismo: a saga que transformou o Brasil”, fez uma explanação sobre o movimento tropeiro no mundo, a influência no desenvolvimento do Brasil, a importância da utilização de mulas para o transporte de mercadorias e o impacto na economia, principalmente na época da extração de ouro em Minas Gerais. Segundo ele, tropeiro era inicialmente o nome dado ao organizador da tropa, mas depois passou a todos os integrantes. “Ele era meticuloso, não podia errar, não podia faltar ferradura. Não dava para improvisar, não podia sentir falta de suprimentos durante o caminho das tropas”, explicou o estudioso, sobre as características de um tropeiro.

Fioreli contou que os caminhos dos tropeiros foram sendo destinos de pessoas para se estabelecerem nos “pousos”, sendo o movimento responsável pelo surgimento de vilas e cidades. Também influenciou na linguagem, com aspectos gaúchos, e na miscigenação com a cultura Guarani. Ele ainda detalhou como eram os desafios das viagens dos tropeiros do Rio Grande do Sul até São Paulo, para a venda das mulas. “Foi somente pela enorme criatividade e determinação que conseguiam vencer esse percurso. Deixaram uma enorme herança de competência, que deveria ser ensinada nas escolas sobre o que é fazer. Eles merecem um dia nacional”, resumiu o professor, lembrando que ainda existem tropas atuando pelo Brasil.

Na sequência do evento, a supervisora da Rádio Câmara Sorocaba, Priscila Radighieri, recitou um poema de Marcelo Bancalero em homenagem aos tropeiros. Já o presidente da ASL fez uma apresentação para explicar a escolha pelo dia 13 de julho para ser o Dia do Tropeiro, em homenagem ao dia de batismo de Cristovão Pereira de Abreu, em 1678. “Foi um dos primeiros, senão o primeiro, a trazer 800 cavalgaduras, no ano de 1733, para Sorocaba, abrindo espaço para as mulas passarem, e depois até Minas Gerais. Foi um roteiro enorme”, disse.

Em participação remota, o pesquisador e historiador Carlos Solera, que também integra a iniciativa de criação do Dia Nacional do Tropeiro, contou sobre a experiência como “madrinheiro” de tropa na infância e o início dos estudos sobre a história do tropeirismo. Ele também defendeu a importância de Cristovão Pereira de Abreu para a consolidação do tropeirismo no Brasil, e ressalta que a primeira tropa foi maior do que citada anteriormente,  com 3200 animais. “Essa é a primeira tropa que chega a Sorocaba, onde é vendida uma parte dos animais e outros cerca de 1200 são levados para Ouro Preto”, afirma. Segundo ele, a maior parte das estradas atuais foi feita sobre rotas tropeiras, promovendo a integração nacional.

O professor Gilberto Fernando Tenor parabenizou a realização do evento e a participação dos especialistas na defesa do Dia Nacional do Tropeirismo. “É maravilhoso ter essa explanação do que nós somos e o que é o tropeirismo”, disse. Da Argentina, a professora Zulema Cañas disse que é muito importante a valorização em todos os lugares onde se estabeleceu o tropeirismo e agradeceu a oportunidade de participar do evento.

A audiência pública teve também a participação do público, que pode tirar dúvidas com os especialistas e compartilhar experiências e conhecimentos sobre o tropeirismo em Sorocaba. O evento foi transmitido ao vivo e pode ser conferido na íntegra durante a programação da TV Câmara (Canal 31.3, digital e aberto; Canal 4 da Claro; Canal 9 da Vivo Fibra) e nas redes sociais (YouTube e Facebook) da Câmara Municipal de Sorocaba.