07/03/2024 15h54
atualizado em: 07/03/2024 15h59
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“Comissões em Debate” desta quinta-feira, 7, recebeu a presença das vereadoras Iara Bernardi e Fernanda Garcia e ativistas da comunidade negra.

O programa “Comissões em Debate” desta quinta-feira, 7, exibido pela Rádio e TV Câmara, teve como tema a Comissão de Direitos da comunidade negra e promoção da igualdade racial, com a participação das vereadoras Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (PSOL), presidente e membro da comissão, formada ainda pelo vereador Fausto Peres (Podemos). A entrevista contou com a presença de convidas para falar sobre a luta das mulheres negras por igualdade e direitos na sociedade.

Além das vereadoras, participaram da entrevista a enfermeira e professora Regina Cardoso, a intérprete e ativista movimento negro Ariane Teodoro e a pedagoga da educação infantil municipal e autora de projeto antirracista Mariana Dantas.

Por conta de estar no mês da mulher, a vereadora Iara Bernardi destacou a importância da participação feminina na sociedade e a preocupação com a violência, principalmente com as mulheres negras. Ela convidou para audiência pública que será realizada no dia 20, às 19h, com o tema da rede de proteção à mulher. Fernanda Garcia destacou a importância da comissão da igualdade racial, principalmente em trazer a defesa dos jovens na periferia e a questão das mulheres.

A entrevista teve início com a notifica do falecimento de Ondina Seabra, a primeira mulher negra a lecionar na cidade, tendo dedicando 38 à educação, além de ter participado da frente negra de Sorocaba para promover cultura e lazer à comunidade. Ariane contou que tem um projeto de biografar mulheres negras da cidade e que a história de Ondina é um legado. “Gostaria muito de ter entrevistado ela em vida, mas com certeza será retratada” disse. Ela informou que no próximo dia 12 tem início uma atividade no Sesc, chamado Trilha de Conhecimento, que resultará na produção de um livro.

Mariana contou que a morte de Ondina a fez refletir sobre a participação das mulheres negras na educação. “Quantas professoras negras tem na minha escola? Somete eu. Na rede? Poucas. Cadê essas mulheres? Porque não chegam a terminar uma faculdade, sendo que a iguladade é pra todos, mas não chega para todos?”, questionou.

Regina afirmou que conheceu Ondina por outras pessoas e lamentou que a história dela só ganhasse destaque na morte. “Temos muitas mulheres negras e potentes que são invizibilizadas. Que a gente siga sempre citando essa mulher de tanta importância”, disse. Fernanda Garcia destacou o espaço da Câmara para divulgação das ações de luta e da importância de novos oportunidades para ampliar a informação á população.

Sobre a questão educacional, Mariana falou da luta diária e a inspiração no pai, barrado na própria formatura por ser negro. Desde então ela atua no combate ao racismo e criou a boneca Ingrid, uma personagem bailarina negra, para trabalhar o protagonismo negro entre as crianças. “As crianças levam sacola com um livro sobre o tema e aboneca para passar um fim de semana e os pais relatam como foi essa vivência”, contou. Ela afirmou que tem recebido relatos importantes sobre a identificação das crianças com a negritude. Próximo passo atuar na formação de professores. “Importante trabalhar a desconstrução, pois tem pessoas que dizem não ser racistas, mas que no fundo são”, disse.

Regina falou que a luta feminista pede por igualdade a todas as mulheres, e que se foca na questão de gênero, mas que ao longo do tempo tem se acertado, pois foi preciso avançar para questão de raça e classe. “Não podemos esquecer que o Brasil é misógino, racista e capitalista, que não trata a mulher negra como todas as mulheres”, resumiu. Destacou a importância de trazer por movimento feminista a dupla desigualdade para as mulheres negras, pelo fato de serem mulheres e negras.

Iara defendeu as necessidade de políticas compensatórias, apesar da revolta de muitas pessoas. “Brancos e negros não começaram igualmente no Brasil” disse, afirmando que políticas devem minimizar o atraso para a população negra, que começou escravizada e não havia recebido nenhuma política publica até agora. Regina citou a autora Bell Hooks, que trata da questão de gênero e raça no livro “O feminismo é pra todo mundo”. “É na universidade que ela vai encontrar o movimento feminista, mas uma pequena parcela negra alcança a universidade”, destacou, explicando que o feminismo branco europeu não poderia levar ideias que não viveram. “Essa era a necessidade de acontecer o feminismo negro”, disse.

Ariane expliocu sobre a pauta que separa o feminismo branco do negro. “Nós não partimos do esmo ponto, não temos as mesmas bases. De acordo com dados do censo social, 14% das mulheres negras tem acesso ao ensino superior, contra 29% de mulheres brancas. 48% das negras tem trabalho informal, contra 35% das mulheres brancas. Continua uma estrutura patriarcal”, afirma. Citou a escritora Djamla Ribeiro e contou que existem muitas outras autoras e obras que tratam sobre o tema.

Iara defendeu que o feminismo é uma pauta positiva, enquanto o machismo é sempre negativo. Ela defendeu leis para o ensino da história africana no país, que aprofundem a questão da escravidão. Mariana afirmou que escolas te se mobilizado para trazer antirracistas, o que é um começo. Fernanda Garcia também destacou a importância da formação de professores para questões que vão além do racismo, como a homofobia.  Regina falou sobre a necessidade de união para mobilização e apontou algumas conquistas, como o Conselho Municipal da Igualdade Racial e a própria comissão da Câmara.

Na área da saúde, Regina lembrou que o SUS tem um conceito ampliado, que compreende um conjunto de ações como saneamento, alimentação, trabalho e renda. “Com isso, é claro que o povo negro tem menos saúde”, afirmou. Ela disse que a maior parte da população pobre é negra e que existe, sim, um tratamento diferenciado no sistema de saúde, citando como exemplo estudo sobre atendimento ginecológico. “Na questão da mortalidade materna, depois de uma queda em 2013, houve um aumento em 2020, com a diminuição dos gasto em saúde que ocorreu no governo Bolsonaro”, afirmou, lembrando que o resultado passa pelo acesso ao pré-natal que atingiu apenas 68% de mulheres negras no período, contra 81% das mulheres brancas. Ela citou ainda especificidades das mulheres negras, como hipertensão e sífilis, que agravam a situação.

Ao final, as participantes trataram sobre a questão da violência contra as mulheres e a campanha “Brasil se violência contra a mulher”, lançada pelo Ministério das Mulheres. Iara Bernardi relembrou da audiência pública, no dia 20, que tratará da rede de proteção às mulheres e de casos de feminicídio que tem aumentado na cidade. Ariane apresentou dados que reforçam as mulheres negras como principais vítimas. Mariana trouxe uma experiência de violência obstétrica e Regina afirmou que trata-se de um problema atual. Ela convidou a população para participar, durante todas as quintas-feiras, no mês de março, de sessões de Cine Clube no Sindicato dos Metalúrgicos, com filmes sobre as questões femininas.