07/03/2024 08h05
atualizado em: 07/03/2024 13h36
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O biólogo Fabiano Demétrio Zequeto, da Divisão de Zoonoses da Prefeitura de Sorocaba, proferiu palestra no plenário da Câmara

Com o objetivo de evitar acidentes com escorpiões e outros animais peçonhentos, que podem trazer riscos para a saúde e até para a própria vida, o biólogo Fabiano Demétrio Zequeto, da Divisão de Zoonoses da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Sorocaba, proferiu palestra para os servidores da Câmara Municipal, na manhã desta quarta-feira, 6, no plenário da Casa. Na abertura da palestra, o secretário-geral Jonata Mena agradeceu o presidente da Casa, vereador Cláudio Sorocaba (PL), pela possibilidade de realizar o evento, que, dada à sua importância educativa, foi transmitido ao vivo pela TV Câmara e ficará disponível para toda a população nas redes sociais do Legislativo sorocabano.

O biólogo explicou que animais peçonhentos são aqueles que produzem peçonha (veneno) e, além de produzi-la, têm condições naturais de inocular essas toxinas nos corpos de outros seres vivos. Já os animais que produzem toxinas, mas não conseguem injetá-la, são chamados de venenosos. Entre os animais peçonhentos – isto é, que, além de produzir veneno, conseguem injetá-lo em outros seres – estão: serpentes, escorpiões, aranhas, lacraias, vespas e abelhas. Entre os animais que, embora venenosos, não conseguem inocular seu veneno estão: lagartas urticantes (taturanas), sapos e algumas espécies de rãs e pererecas.

Aracnídeos peçonhentos – Fabiano Zequeto disse que os animais venenosos e peçonhentos, geralmente considerados vilões no imaginário popular, muitas vezes são vítimas da espécie humana, que invade seus espaços naturais. “Muitos deles são animais frágeis e usam o veneno para se defender ou para digerir a presa da qual vão se alimentar”, explicou, observando que muitas serpentes engolem sua presa inteira, por não possuírem dentes para mastigá-la, e o veneno, então, lhes é necessário para digerir esse alimento. O biólogo descreveu o mecanismo de inoculação do veneno de alguns animais peçonhentos, como as serpentes, bem como o mecanismo defensivo de animais venenosos como o sapo, cuja bolsa de veneno serve apenas como defesa, quando é mordido por um animal, por exemplo, então, sua bolsa estoura, liberando o veneno.

O biólogo priorizou, em sua palestra, os aracnídeos peçonhentos, em especial, o escorpião, destacando a necessidade de se considerar, acerca desses animais, aquilo que se convencionou chamar de “importância médica”, isto é, a gravidade do eventual envenenamento. “Há espécies que não dispõem de veneno ativo para o ser humano e não conseguem causar nenhum tipo de dano, enquanto outros têm importância médica e podem ter consequências graves”, disse. O escorpião amarelo e o escorpião marrom estão entre os animais peçonhentos cujo veneno tem importância médica e seu veneno está na cauda, uma extensão de seu abdômen, com a qual ele pica sua presa. Os escorpiões são vivíparos, como os mamíferos, isto é, os filhotes, de 20 a 25 de cada vez, nascem vivos. “O primeiro alimento dos filhotes são seus irmãozinhos mais fracos”, contou, observando que, depois de 14 dias, os filhotes já são independentes.

Uma das espécies mais comuns de escorpião é o Tityus serrulatus, popularmente conhecido como escorpião amarelo. “Até hoje foram encontrados somente dois exemplares machos desse escorpião. Só se encontram as fêmeas dele. Elas reproduzem através de um processo chamado partenogênese e toda a ninhada é constituída de fêmeas, que, se sobreviverem, também produzirão filhotes. Basta um exemplar desse escorpião, que pode vir escondido, por exemplo, num material de construção, para infestar toda a área”, afirma Fabiano Zequeto, observando que esse escorpião adora se alimentar de baratas.

Tipos de aranhas – O biólogo também descreveu as aranhas, que se dividem em dois grandes grupos, conforme o ferrão. As aranhas caranguejeiras formam um desses grupos e, em que pese aterrorizarem pela aparência, não causam acidentes graves, pois seu ferrão é voltado para baixo, o que dificulta a picada. “Infelizmente, as pessoas acabam matando essa aranha, mas ela é útil para nós, pois é uma grande predadora de escorpiões e de outros animais peçonhentos”, explicou. “Já as aranhas armadeiras têm importância médica, pois seu veneno é bastante ativo para o ser humano e pode causar acidentes graves. Ela é arborícola, o que exige cuidado com a criançada que sobe em árvore”, observou, lembrando que esse tipo aranha leva esse nome por armar o bote para cair sobre a presa. “Essa aranha deve ser combatida de longe, com vassoura, pois ela pode dar um bote de 30 centímetros”, acrescentou.

A aranha marrom, que fabrica teia, e pode ficar atrás de móveis ou cantinhos de paredes, bem como atrás de cortinas e quadros e mesas de jardim, também pode causar acidentes graves. “Elas não são agressivas, mas podem se tornar agressivas se tiverem filhotes”, disse, descrevendo detalhadamente outras espécies de aranhas como as viúvas negras, além de aranhas sem importância médica e que são úteis para os seres humanos pois se alimentam de insetos voadores. O biólogo também falou das lacraias, que são peçonhentas, e dos piolhos de cobra, que não são peçonhentos e que, conforme frisou, nada têm a ver com piolho nem com cobra. “No máximo, mancham a pele ou causam irritação no olho e se alimentam de matéria orgânica em decomposição, como folhas e galhos podres”, disse. Também discorreu sobre lagartas e mandruvás e serpentes, enfatizando que 70% das serpentes brasileiras não são peçonhentas. 

Controle mecânico – Em seguida, o biólogo discorreu sobre as formas de controle dos animais peçonhentos, desaconselhando o controle químico de escorpiões. “O controle químico não é o ideal, pois dá uma sensação de falsa segurança. O próprio Ministério da Saúde não recomenda. O escorpião, assim como a aranha, não respira pela boca, mas pela barriga. Quando ele sente o veneno no ambiente, ele fecha os buracos de sua estrutura espiral e consegue suster a respiração por um bom tempo, escondendo-se por semanas e meses sem se alimentar”, explicou, recomendando o controle mecânico dos escorpiões. Fabiano explicou que esses animais chegam perto do ser humano por encontrar uma cadeia de elementos que envolve água, abrigo, alimento ou acesso, como material de construção, pilhas de telhas, muro e paredes sem reboco e materiais inservíveis, além de mato alto. “O escorpião também pode penetrar conduítes e penetrar nas casas, é assim que ele chega em altos edifícios, tendo acesso a ralos e frestas sob pias e tanques”, observa.

Por fim, Fabiano discorreu sobre os procedimentos a serem adotados em caso de picada de um animal peçonhento. “Lave o local com água e sabão somente. Não faça torniquete, não aperte, não joga nada ali. Quem sabe o que deve ser feito é o médico. Portanto, em caso de acidente com animal peçonhento deve-se procurar as unidades de saúde, como as Unidades Básicas de Saúde e as Unidades de Pronto-Atendimento ou o Hospital Regional, se possível levando o animal que causou o acidente, mas sem perder tempo procurando o bicho, caso ele tenha se escondido, pois o mais importante é buscar atendimento médico, descrevendo o bicho para o médico, caso não possa levá-lo”, recomendou. Com base nisso, é que o médico irá indicar o soro adequado”, disse.

Após a palestra, Fabiano respondeu a questionamentos dos presentes e falou sobre a criação de galinhas de angola para combate a escorpiões. “Galinha, de fato, come escorpião, mas não pode ser considerada um método eficaz de controle de escorpiões. A galinha tem hábito diurno, enquanto o escorpião tem hábito noturno. Por outro lado, a galinha não tem como ciscar numa pilha de telha ou de tijolo, ele pega o escorpião que está na frente dela. Além disso, na zona urbana, ter galinhas é um problema. As fezes da galinha, podem se transformar num substrato ideal para as larvas do mosquito transmissor da leishmaniose visceral, que afeta tanto as pessoas quanto os cães. Então, para se ter galinhas é preciso manter uma higiene muito grande, caso contrário, não se resolve o problema do escorpião e ainda cria o problema do mosquito”, alerta.

A palestra foi transmitida ao vivo pela TV Câmara e pelas redes sociais do Legislativo sorocabano (YouTube e Facebook), onde está disponível na íntegra.