Programa da Rádio Câmara recebeu o diretor da capela e o vereador Fernando Dini (PP) que propôs declarar o local como patrimônio cultural material da cidade
A histórica Capela de Nosso Senhor do Bomfim foi tema do programa Radar Cidadão desta segunda-feira, 13, que recebeu o diretor do local, Adriano Molina, e o vereador Fernando Dini (PP), que é autor do projeto de lei que declara a capela construída pelo religioso negro João de Camargo como Patrimônio Cultural Material de Sorocaba, juntamente com o seu acervo de móveis e objetos.A proposta de Dini já foi aprovada em duas discussões e aguarda agora sanção do Executivo.
Durante o programa, conduzido por Priscilla Radighieri, os convidados reforçaram a importância histórica, cultural e para o sincretismo religioso da capela ecumênica e de seu fundador, nascido escravo. Também reforçaram a necessidade urgente de manutenção da propriedade centenária, que sofre com a erosão do terreno.
A origem da capela (localizada na Avenida Barão de Tatuí, nº 1.083, em Sorocaba) data de 1906, quando, após uma visão, João de Camargo, considerado um santo popular, dedicou-se ao projeto de criar sua igreja e auxiliar as pessoas. “Ele começou a receber mensagens de que deveria erguer uma capela às margens do córrego da Água Vermelha que abrigasse ali a todos que procurassem Deus. Ali daria conselhos e também muita cura, usando o poder da natureza e as influências de Deus, dizendo que a fé das pessoas que as curavam”, lembrou o diretor.
Em seguida, Fernando Dini ressaltou a importância do legado deixado por seu fundador contra o preconceito. Também frisou a necessidade de preservação do local e de se divulgar informações sobre esse patrimônio histórico e de fé. “Nhô João foi um desbravador, imagina o que esse homem precisou passar para tornar isso real. Um escravo, sem nenhuma posse, nada mais que sua fé”, destacou.
Os convidados também cobraram que o Poder Público olhe com interesse para os problemas enfrentados pela capela, que corre risco iminente devido à erosão e a possibilidade de queda de árvores. “Nessa tempestade que deu caíram muitos galhos, mas, graças ao bom Deus não árvores. Porém, tem uma árvore tombando sobre o quarto de Nhô João. É uma tragédia já anunciada. Estamos na iminência de um problema seríssimo e o poder público lava as mãos”, frisou o vereador, que disse que já foram feitas muitas denúncias, mas sem retorno efetivo da Prefeitura, mesmo tendo sido enviados representantes de diversas secretarias e do Saae ao local para verificar a gravidade da situação.
“Estou na diretoria da capela, como membro, há pelo menos 15 anos e é a primeira vez que vejo um representante do Poder Público, que é o vereador Fernando Dini, em nome do Poder Legislativo, olhar para a capela com maior preocupação”, ressaltou o Adriano Molina. A manutenção do local é custeada por doações espontâneas e por eventos. Mesmo com as dificuldades enfrentadas, a capela realiza um forte trabalho social.
Origem histórica - A primeira capelinha foi erguida por João de Camargo em torno da cruz de Alfredinho, na altura da esquina da hoje Rua João de Camargo com a Avenida Barão de Tatuí, em 1906. Logo após, construiu-se um pequeno cômodo para servir de cobertura a um poço. No ano seguinte, em virtude do grande movimento provocado pelos fiéis que acorriam ao local, foi providenciada a construção de uma capela maior, em frente da outra. Esta é a Capela que, acrescida de várias reformas, a partir de 1908, ainda hoje existe e serve de ponto de culto e romaria aos crentes de todas as partes do país.
Nascido em Sarapuí (que antigamente fazia parte de Sorocaba) no dia 5 de julho de 1858, o ex-escravo João de Camargo tornou-se um líder religioso de expressão nacional e até no exterior. Após a abolição, veio para Sorocaba e trabalhou como cozinheiro, militar, trabalhador de lavoura e de olarias. Morreu em Sorocaba em 28 de setembro de 1942.
João de Camargo saiu da cidade por duas vezes e viveu durante cinco anos com Rosário do Espírito Santo, que veio a ser sua esposa. Porém, ambos viveram juntos por apenas cinco anos. Recebeu influências religiosas africanas, através de sua mãe, de sua sinhazinha Ana Teresa de Camargo e do padre João Soares do Amaral, o que fez de sua fé um sincretismo entre várias religiões.
Nhô João, como viria a ser chamado por seus devotos, já praticava curas desde 1897. Em 1906, teria tido uma visão do menino Alfredinho, que o curou do vício na bebida, e dedicou-se ao projeto de criar a sua igreja, no então distante bairro das Águas Vermelhas.
Após ser processado por curandeirismo em 1913, Nhô João decidiu, para proteger a nova religião, registrá-la oficialmente como Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim, reconhecida como pessoa jurídica em fevereiro de 1921. Em 1995, a Capela de João de Camargo (Capela Nosso Senhor do Bonfim) foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba.
O programa Radar Cidadão sobre a Capela de João de Camargo, que foi transmitido ao vivo pela TV Câmara e redes sociais da Casa, ficará disponível no site do Legislativo, Facebook e Youtube.