Iniciativa da vereadora Iara Bernardi (PT), autora de frente parlamentar do hip-hop, o evento tratou dos 20 anos do Fórum do Hip-Hop do Interior
Os 50 anos do hip-hop e os 20 anos do Fórum do Hip-Hop do Interior de São Paulo foram debatidos em audiência pública da Câmara Municipal de Sorocaba, realizada na noite de quinta-feira (19), no plenário da Casa. A iniciativa foi da vereadora Iara Bernardi (PT), que preside a Comissão dos Direitos da Comunidade Negra e Promoção da Igualdade Racial da Casa Legislativa. O evento contou com apresentações de vários ativistas e grupos do movimento hip-hop.
Iara Bernardi presidiu a audiência pública e dividiu a mesa dos trabalhos com a vereadora Fernanda Garcia (PSOL), que integra a Comissão dos Direitos da Criança, Adolescente e Juventude; o ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Cláudio Silva; Ciro do Hip-Hop, rapper e ativista das lutas negras e do Movimento Hip-Hop de Campinas e região; Ana Paula Sinapse, representando o Movimento Tá Ligado Hip-Hop; Wagner Gregio, o MC Egs, do Fórum de Hip-Hop de Sorocaba; Márcio Brown, da Associação Ação Periférica; e o DJ Sandro Mancha, do Fórum de Hip-Hop do Interior.
As deputadas estaduais Marcia Lia (PT) e Lecy Brandão (PcdoB) enviaram mensagens em vídeo enaltecendo a iniciativa da audiência. Também participaram da audiência pública representantes da Sociedade Cultural e Beneficente 28 de Setembro, Rede de Sustentabilidade, Instituto Plena Cidadania, Nucab da Uniso, Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso, Frente Municipal de Itapetininga, Associação Ação Periférica, Frente Parlamentar Estadual da Assembleia Legislativa, Sindicato dos Rodoviários de Sorocaba, Fórum Hip-Hop de Sorocaba, Zulu Nation, entre outros coletivos e entidades, além do ex-vereador e médico Anônio Sérgio Ismael, esposo da vereadora Iara Bernardi.
Reconhecimento federal – Iara Bernardi ressaltou a importância e representatividade da audiência pública, parabenizou um grafiteiro que conclui um trabalho artístico feito especialmente para a ocasião e destacou o reconhecimento pelo Governo Federal do movimento hip-hop. A vereadora contou que o governo Lula, através do Ministério da Cultura, está lançando prêmios para o movimento e conclamou os agentes e coletivos de Sorocaba a participarem dessa iniciativa.
O Ministério da Cultura, através da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural, está lançando o edital do “Prêmio Cultura Viva – Construção Nacional do Hip-Hop 2023”, além de um selo nacional dos Correios em homenagem ao 50 Anos da Cultura Hip-Hop, que será lançado em Brasília no próximo dia 24 de outubro. O Prêmio Cultura Viva voltado para o hip-hop prevê um investimento de R$ 6 milhões com 325 premiações para os projetos realizados pelos agentes, coletivos e entidades do movimento cultural hip-hop.
A vereadora Fernanda Garcia (PSOL) afirmou que o hip-hop “ainda é muito marginalizado” e ressaltou a importância de se trazer para dentro do Legislativo sorocabano a cultura popular. “O hip-hop salva vidas, o hip-hop transforma a vida da juventude nas periferias. Assistindo o filme sobre os Racionais MCs, percebe-se a luta do grupo e de outros grupos, que se alimentaram dos sonhos, o sonho os manteve vivos e eles lutaram e lutam para transformar a realidade”, afirmou a vereadora, acrescentando a importância de se terem políticas públicas para o hip-hop.
Outros depoimentos – O ouvidor da polícia Cláudio Silva falou de sua trajetória no movimento negro e na política, desde quando era engraxate de sapatos e, segundo ele, teve a primeira experiência de racismo dentro de uma delegacia de polícia, aos 12 anos. “A partir daí, fui procurar informação e aquilo me despertou pela busca por letramento racial e fui parar numa reunião do Movimento Negro Unificado, na campanha ‘Mano, Não Morra, Não Mate’, que acontecia às quintas-feiras, no Sindicato dos Radialistas, em São Paulo, e onde encontrei o Mano Brown, que também participava desses eventos”, contou, afirmando que se tornou ouvidor da polícia buscando o equilíbrio. “Mas o equilíbrio não significa coadunar com ilegalidades e arbitrariedades cometidas por agentes públicos que devem proteger as pessoas”, enfatizou.
O DJ Sandro Mancha, representando o Fórum Hip-Hop do Interior, falou dos 28 anos de hip-hop em Itapetininga, sua cidade de origem, e dos 20 Anos do Fórum do Hip-Hop do Interior, destacando sua “felicidade em conhecer o hip-hop de Sorocaba”, que, segundo ele, foi um exemplo para o movimento. Por sua vez, Márcio Brown dos Santos, da Associação Periférica, disse que o hip hop teve muita importância na sua vida e na vida de muitos jovens e recordou-se, “com orgulho, dos primeiros passos desse movimento nos bailes do Clube 28 de Setembro”.
Frente parlamentar – A vereadora Iara Bernardi também é autora do Projeto de Resolução nº 013/2023, que institui na Câmara Municipal de Sorocaba a frente parlamentar pela construção de políticas públicas de fomento, divulgação e apoio à cultura hip-hop. A Frente Parlamentar do Hip-Hop será composta por vereadores da Casa que aderirem voluntariamente à mesma.
A referida frente parlamentar tem como objetivo promover audiências públicas, simpósios, encontros, seminários e outras atividades similares para debater o movimento hip-hop, recebendo sugestões, propostas e estudos sobre o tema, a fim de definir políticas públicas que busquem soluções para as dificuldades encontradas pelo movimento.
A frente parlamentar também tem como objetivo elaborar propostas legislativas destinadas a defender as necessidades do movimento e promover o diálogo entre as diferentes instâncias públicas e as entidades da sociedade civil quanto à promoção de ações que visem o apoio e a construção da cultura hip-hop no Estado de São Paulo, entre outras ações. A sociedade civil terá garantida sua participação em todas as atividades promovidas pela frente parlamentar.
Movimento hip-hop – Conforme a vereadora Iara Bernardi observa na justificativa do seu projeto de resolução, o hip-hop é um movimento cultural presente em diferentes metrópoles mundiais, composto por quatro elementos culturais: rap (ritmo e poesia), grafites (assinaturas), Dj’s e Mc’s e Street Dance (dança de rua). O quinto elemento seria o conhecimento.
Historicamente, o hip-hop surgiu no bairro do Bronx nova-iorquino, definindo-se como um movimento em 1973, por isso, em 2023, comemora-se seu primeiro meio século de vida. No Brasil, o movimento começou a ser divulgado no início da década de 80, através do break. Em 1988 foi lançado o primeiro registro fonográfico de rap brasileiro através da coletânea “Hip-Hop Cultura de Rua” pela gravadora Eldorado.
Iara Bernardi observa que “o hip-hop, a partir da arte, deu visibilidade a denúncias sobre as condições de vida da população mais pobre, das desigualdades e vulnerabilidades existente e das violências praticadas nas periferias principalmente em relação aos negros e negras”.
A vereadora enfatiza, ainda, que “hoje, como antes, o RAP (abreviatura de Rhythm and Poetry – Ritmo e Poesia) representa para a juventude periférica um importante instrumento de comunicação, educação e luta rumo à construção de uma nova sociedade de pessoas livres e socialmente iguais”.
Grupos de hip-hop – Após a fala das vereadoras e demais representantes de movimentos, a audiência pública foi aberta às participações e intervenções de diversos grupos de hip-hop de Sorocaba e região, bem como seus representantes, que deram depoimentos sobre suas respectivas trajetórias no movimento hip-hop, no movimento negro e outros movimentos sociais.
A audiência pública foi transmitida ao vivo pela TV Câmara e pelas redes sociais da Câmara Municipal de Sorocaba (YouTube e Facebook), nas quais já está disponível na íntegra.