15/03/2023 09h44
atualizado em: 15/03/2023 10h13
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A iniciativa da homenagem foi da vereadora Fernanda Garcia (PSOL) e contou com a participação de militantes da luta feminista e antirracista

A Câmara Municipal de Sorocaba realizou, na noite de terça-feira, 14, uma sessão solene intitulada “Sementes de Marielle Franco”, com o objetivo de homenagear mulheres que se destacam por sua atuação em defesa dos direitos humanos, especialmente através da luta feminista e antirracista. A iniciativa da solenidade foi da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), em memória – e em luta – pelos cinco anos do assassinato de Marielle Franco, vereadora pelo PSOL do Rio de Janeiro, que ocorreu em 14 de março de 2018, quando também foi morto o seu motorista Anderson Gomes.

Além de Fernanda Garcia, que presidiu a solenidade, a mesa de honra do evento foi composta pelas seguintes autoridades: vereadora Iara Bernardi (PT), presidente da Comissão dos Direitos da Comunidade Negra e Promoção da Igualdade Racial; Bruna Santos, membro da executiva do PSOL em Sorocaba, representando a presidência do partido; e a secretária geral da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), Maria Teresa Ferreira. 

“Marielle Franco virou um símbolo, não só do Brasil, mas internacional, e representa também um legado, várias sementes que germinaram e continuam germinando. Por isso, depois de refletirmos coletivamente, decidimos fazer essa sessão solene para homenagear essas mulheres lutadoras, que vieram antes de Marielle ou vieram depois, mas que partilham essa mesma luta das mulheres negras, das mulheres periféricas, contra a violência política. A nossa proposta é que essa data seja instituída por lei”, afirmou Fernanda Garcia.

Violência política – A vereadora Iara Bernardi destacou que muitas mulheres homenageadas são sementes que já frutificaram e discorreu sobre a violência política que as mulheres enfrentam, entre outras violências. “Marielle Franco, por exemplo, era uma mulher que incomodava, pela trajetória, pela cor, pela força, por sua origem. Não conseguiram enfrentá-la no debate, nos temas que ela trazia, então resolveram metralhá-la. A brutalidade que aconteceu com Marielle é a brutalidade que vimos no governo Bolsonaro e nada se apurou”, disse Iara Bernardi, citando também casos de violência policial em Sorocaba contra jovens negros e observando que, agora, o Ministério da Justiça determinou que as investigações do caso Marielle prossigam para que se chegue aos mandantes do crime.

A secretaria geral Unegro, Maria Teresa Ferreira, disse que Marielle “foi uma mulher de luta, mas também uma mulher de comunidade, que nunca fez política pela política, mas política pautada no bem-estar do seu povo”. No seu entender, a mulher negra, por ser colocada à margem da sociedade, tem melhores condições de olhar para o centro com distanciamento crítico: “É o distanciamento da dor, mas é deste lugar que a gente consegue enxergar as brechas e as fissuras da sociedade e isso nos dá propriedade para dizer onde as transformações precisam ser feitas, com exatidão cirúrgica” – disse.

Maria Teresa destacou, ainda, que, como mãe de um menino negro, sua luta é para que seu filho não seja parte das estatísticas. Também defendeu a ampliação das ações para abarcar outras mulheres, inclusive as mulheres evangélicas. Por sua vez, representando o PSOL, Bruna Santos disse que o legado de Marielle Franco permanece vivo e ameniza um pouco a dor de sua partida. Outras mulheres presentes fizeram uso da palavra e a vereadora Mariana Conti (PSOL), da Câmara Municipal de Campinas, enviou um discurso gravado em vídeo para a solenidade.

O evento também contou com representantes do movimento cultural “Beco das Minas”, as jovens Paola, Letícia e Evelyn, que apresentaram batalhas de poesia, com temática feminista e contra o racismo. Também foi exibido um vídeo falando da trajetória de Marielle Franco, através de depoimentos de várias mulheres que falaram de sua importância e da luta dos diversos coletivos de mulheres.

Participaram ainda da sessão solene: Alexandre Henrique de Jesus, dirigente estadual LGBT do PT; Heitor Beranger Junior, conselheiro municipal de Assistência Social e capelão do Hospital Evangélico; Helena Barros, da Juventude do PT; Ana Lúcia Mendes, do Coletivo “Uma de Nós”; advogada Emanuela Barros, presidente da Afissore e integrante do movimento “Barraqueiras”; e Kátia Campos, diretora cultural do Movimento Vinte e Oito de Setembro. 

Mulheres homenageadas – Foram homenageadas as seguintes mulheres, que compuseram a mesa estendida da solenidade (com exceção de Maria Teresa Ferreira, que integrou a mesa de honra):

– Carol Fernandes, jornalista, ganhadora do prêmio Jovem Jornalista 2020 do Instituto Vladimir Herzog e do Concurso Jornalismo e Publicidade de 2022, apresentadora e roteirista do podcast “Elas no Poder” e repórter do portal “Porque”.

– Drica Martins, paulistana, assistente social e ativista, gestora cultural e militante antirracista pela igualdade social, em especial das mulheres pretas. É diretora da Central Única das Favelas (Cufa) de São Paulo e presidente da Cufa Sorocaba, além de conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. 

– Laura Mesquita, estudante de gestão ambiental, militante feminista pelo Coletivo Feminista Rosa Lilás desde 2016 e militante ecossocialista pelo Coletivo Enxame, do PSOL.

– Mayara Neves, estudante de Pedagogia na UFSCar Sorocaba, uma das organizadoras da Feira Afro Cultural e agente de pesquisa e mapeamento do IBGE. 

– Maria Helena Oliveira Ferreira, historiadora e professora da rede pública estadual há seis anos, atualmente participando do ciclo do Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

– Maria Rodrigues, agricultora agroecológica e agrônoma formada pela UFSCar, com trabalhos de agricultura familiar, agroecologia e soberania alimentar, com mulheres do campo e da cidade.

– Milene Martinez, professora da escola pública há 17 anos em Sorocaba, vencedora por duas vezes do Prêmio Maria da Penha concedido pelo Congresso Nacional, por seu trabalho na conscientização de estudantes sobre igualdade de gênero.

– Néia Mira, pedagoga e coordenadora do Projeto de Promotoras Legais Populares, além de integrante do Comitê Popular de Luta “Mulheres na Democracia” e da Comissão Municipal de Enfrentamento da Violência contra Crianças e Adolescentes.

– Regina Cardoso, enfermeira, com Mestrado em Comunicação e Cultura pela Uniso, conselheira de saúde e integrante do Comitê Popular de Luta “Mulheres na Democracia”.

– Tamires Mazzetto, psicóloga e doutoranda na UFSCar Sorocaba na temática “saúde mental, institucionalizações, feminismo e memórias sociais”, além de militante da Luta Antimanicomial e participante do Movimento Civil “Soroinvisível”. 

– Tarsila Toti, militante antirracista, cabeleireira, produtora cultural e assistente social, com ênfase no empoderamento feminino, enfrentamento da violência contra a mulher e fortalecimento de vínculos. 

– Maria Teresa Ferreira, escritora, educadora social, secretária geral da Unegro e participante do Coletivo Feminista Rosa Lilás e da Articulação Brasileira de Lésbicas. 

– Rosalina Burgos, professora, também homenageada, que não pôde comparecer, mas enviou mensagem de agradecimento, lembrando o legado de Marielle Franco e enfatizando a importância da ocupação de espaços de poder, como o Legislativo, pelas mulheres.

A sessão solene foi transmitida ao vivo pela TV Câmara e está disponível nas redes sociais do Legislativo sorocabano (YouTube e Facebook).