13/04/2020 18h42
atualizado em: 14/04/2020 08h15
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O alergologista Martti Antila defendeu o isolamento social e disse que os casos leves de asma não integram o grupo de risco do vírus

O alergologista Martti Anton Antila, especialista em doenças alérgicas, concedeu entrevista à TV Câmara, na quinta-feira, 9, quando discorreu sobre patologias de sua especialidade e as medidas de combate ao coronavírus, como o isolamento social. Graduado em Medicina pela Universidade de Mogi das Cruzes, Antilla fez pós-graduação e residência médica na Universidade de Helsinque, capital da Finlândia (país de origem de sua família), e tem artigos publicados em diversas revistas científicas, além de ser autor de capítulos de livros de sua especialidade médica.

O alergista afirmou que a demografia de cada país tende a influenciar no comportamento do coronavírus, mas alertou que não é possível prever com exatidão como isso ocorrerá, recomendando a importância do isolamento social nesse momento. “Entre 1918 e 1920 tivemos gripe espanhola em Sorocaba e muitas pessoas morreram. Na época, a gripe atacou não só as cidades maiores, mas também pequenas vilas. Compreendo o receio de toda a classe industrial, eu mesmo estou sofrendo com o isolamento, na minha clínica são 13 funcionários, mas qual seria o preço de se liberar tudo agora? Será que seríamos a nova Milão?”, indaga, referindo-se à cidade italiana onde houve grande número de mortos.

Martti Antila comparou os casos da Finlândia e da Suécia no combate ao coronavírus: “A Finlândia começou o isolamento social mais cedo. A Suécia achou que não precisava e começou depois. Hoje, a Suécia está com muitos mais casos e óbitos do que a Finlândia”. Martti Antila também analisou outros argumentos dos críticos em relação à quarentena, como a hipótese de que o vírus não resiste ao calor, observando que, na Austrália, com um clima semelhante ao brasileiro, o vírus também tem-se disseminado. “O que se sabe é que o coronavírus pode agregar-se a diversas superfícies e sobreviver por vários dias”, observou.

Martti Antila também discorreu sobre a hidroxicloroquina, enfatizando que seu uso pode ser avaliado pelo médico em relação a cada paciente, mas ainda não tem como ser proposto em larga escala, como medida de saúde pública, porque sua eficácia e seus riscos ainda estão sendo estudados. Para o alergista, é preciso manter o isolamento social e as medidas de higiene, como lavar as mãos com sabão, passar álcool gel e usar máscara. “No início, a recomendação do próprio Ministério da Saúde é que a máscara só deveria ser usada por profissionais de saúde e pessoas contaminadas, mas, hoje, a recomendação é que seu uso seja geral, para todos”, observou. 

Asma e coronavírus – Martti Antila também respondeu perguntas de telespectadores e esclareceu se as pessoas que sofrem de asma integram ou não o grupo de risco do coronavírus. “A prevalência da asma gira em torno de 10 a 15 por cento da população. A grande maioria tem uma asma leve ou intermitente e não é considerada grupo de risco. Pertencem ao grupo de risco apenas asmáticos muito graves, em número reduzido, que fazem uso de altas doses de imunossupressores e cuja doença chega a se confundir com enfisema, com doença pulmonar obstrutiva crônica”, explicou.

O alergologista observou que fazem parte do grupo de risco, entre outros, pacientes que usam medicamentos imunossupressores, em altas doses, como os utilizados no câncer, assim como pacientes imunobiológicos, que têm asma, artrite, reumatismo, entre outros. Mas Martti Antila ressaltou que os pacientes que tomam medicamentos de uso contínuo, com acompanhamento médico, devem manter essa medicação, inclusive pessoas com asma que fazem uso de corticoide. “O indivíduo asmático, mesmo que não tenha sintomas, não pode parar o tratamento preventivo diário. Tratar asma é como escovar os dentes”, comparou.

O alergista discorreu sobre as demais doenças respiratórias que acometem a população, sobretudo no inverno, e recomendou a limpeza e o arejamento das casas para combater o ácaro, que, segundo ele, é o principal vilão no caso da rinite. Antila recomendou que não se use umidificador de ar, porque a quantidade de ácaro é diretamente proporcional à umidade. “O importante é a hidratação oral. O umidificador aparentemente melhora os sintomas, mas aumenta abruptamente a quantidade de ácaros”, disse, recomendando, também, que a roupa a ser utilizada no inverno seja ventilada e posta ao sol para secar.

Além do isolamento e das medidas de higiene, o médico afirmou que se a pessoa tiver sintomas de gripe, deve manter-se isolado em casa. “Se houver agravamento da tosse e da falta de ar, será preciso buscar um serviço de emergência. A Covid-19 é uma gripe seca, raramente ela escorre água, e uma de suas características é a perda abrupta de olfato e paladar”, explicou. Antila afirmou, ainda, que São Paulo e Sorocaba estão preparados para receber os pacientes e disse acreditar que, com o isolamento social, a curva da pandemia está se achatando. 

A entrevista foi transmitida ao vivo também pela Rádio Câmara e pode ser vista na íntegra no portal do Legislativo e em suas redes sociais.