21/10/2021 10h49
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O debate contou com Juliana Merilin, coordenadora do Projeto Girassol, que trata do assunto

Como parte da primeira Semana de Sensibilização e Conscientização sobre a Perda Gestacional ou Perinatal, o programa “Câmara Debate”, da TV Câmara, abordou o tema em sua edição que foi ao ar no final da tarde de quarta-feira, 19, e já está disponível nas redes sociais da Câmara de Sorocaba. A iniciativa foi da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), autora da Lei 12.231, de 1º de outubro de 2020, que instituiu a referida semana no calendário oficial do Município de Sorocaba, em torno do dia 15 de outubro.

O programa “Câmara Debate” teve como convidada a professora Juliana Merilin, mãe enlutada, que perdeu seu filho Gael, com 40 semanas de gestação, e é coordenadora do Projeto Girassol, que tem como objetivo trabalhar o luto das mães e famílias que têm perda gestacional ou perinatal, chamando a atenção do poder público e da sociedade a respeito da questão. Em homenagem ao filho de Juliana, a vereadora Fernanda Garcia intitulou sua lei de “Lei Gael”.

“A criação da semana em Sorocaba, inspirada no trabalho do Projeto Girassol, criado pela Juliana Merilin, tem como objetivo entrelaçar as áreas de saúde e educação para tratar do tema. Com essa lei, creio que conseguimos dar um salto de qualidade fortalecendo as mães enlutadas, que precisam ser ouvidas e acolhidas”, enfatiza Fernanda Garcia, que defende a discussão do tema nas unidades de saúde e afirma que irá lutar para consolidar a semana em Sorocaba, buscando propiciar o luto com acolhimento às mães que sofrem perda gestacional ou perinatal.

Luto e acolhimento – Juliana Merilin relatou sua perda gestacional: “Quando perdi o Gael, há dois anos e meio, com 40 semanas de gestação, constatei que as equipes de saúde não estavam preparadas para lidar com as mães e pais que perdem um filho e acolhê-los em seu luto. Foi aí que tive a ideia criar o Projeto Girassol. Desde a concepção, desde quando se descobre que está grávida, já se é mãe, já se é pai, então, quando se perde esse filho, entre quatro ou cinco semanas até 38 ou 42 semanas, é considerado uma perda gestacional, e nos primeiros 40 dias de nascido, é considerado uma perda perinatal”, explica Juliana Merilin. A coordenadora do Projeto Girassol explicou, ainda, que, no Brasil, fetos com até 22 semanas de gestação e com menos de 500 gramas são considerados lixo hospitalar e não entram nas estatísticas de perda gestacional.

Ao perceber que era necessário ter em Sorocaba um serviço humanizado para quem perde o filho e, com base em iniciativas que encontrou em outras cidades, como São Paulo, resolveu criar o Projeto Girassol, que hoje reúne cerca de 70 famílias e começou a nascer em 20 de agosto de 2019, quando foi realizada a primeira reunião do grupo, quatro meses depois da perda do menino Gael. “Promovemos encontro mensais e contamos, atualmente, com a ajuda voluntária da psicóloga Eliane Souza, que é especialista em luto”, conta.

Fernanda Garcia observou que, além dos pais, mães e famílias entulhadas, os próprios profissionais de saúde precisam de apoio para lidar com o luto, pois costumam ser preparados para isso e também sofrem. Corroborando o que dissera Juliana Merilin, também defendeu que exista uma ala específica nas unidades de saúde para que as mães que sofreram perda gestacional não fiquem nas mesmas alas da demais mães, tendo que ouvir o choro de bebês, mães amamentando e pessoas perguntando como está seu filho. A vereadora também falou da importância do atendimento psicológico a essas mães e famílias.

Para Juliana Merilin, a sociedade não educa as pessoas para a morte, que não é encarada de forma natural, com isso, o luto acaba não sendo reconhecido e se torna invisível. Segundo ela, em outras cidades, há grupos que se dedicam a promover um ritual de despedidas para as mães que sofrem perda gestacional, oferecendo a elas uma forma de se despedir do seu filho e criar uma memória afetiva sobre a perda, facilitando o luto e evitando sofrimento psicológico.

O movimento de sensibilização sobre perda gestacional foi criado nos Estados Unidos, em 1988, e o Dia Internacional de Sensibilização para a Perda Gestacional e Neonatal foi instituído, anualmente, em 15 de outubro, realizando-se a semana em torno dessa data. Nesta data, todas as mães e famílias que tiveram perda gestacional acendem uma vela em memória de seus filhos, a chamada “Onda de Luz” em homenagem aos “Anjos de Luz”, os filhos que perderam, e soltam balões. Segundo Merilin, em 2019 houve o primeiro movimento “Ondas de Luz” em Sorocaba, com cerca de dez famílias e, neste ano, foram 30 famílias participantes no Campolim, reunindo amigos e familiares.